sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Atitude 95! Os dez anos do Orçamento de Galpão e os nove anos deste Sítio

Nós: peão e prendas (séc.passado)
Buenas gauchada do Rio Grande e de toda esta terra em redor que chamamos de mundo! 

Tudo teve um início. E o início deste modesto galpão virtual (sítio, blog), sem porteiras, sem aramados, sem cercas para ultrapassar, teve o carregamento do seu primeiro chasque (postagem) no dia 18 de dezembro de 2009. 

Portanto, há nove anos, com o título "Estamos chegando a galope". Basta abrir as porteiras clicando em http://obolsodabombacha.blogspot.com.br/2009/12/estamos-chegando-galope.html


E o objetivo nosso de criar, de construir este galpão (blog) foi simples: fazer com que o seu criador (este gaúcho de botas, bombachas, guaiaca, mais o seu lenço maragato (vermelho)), parasse de ver somente as páginas esportivas dos jornais, programas esportivos da Rádio Guaíba de Porto Alegre (RS), sítios esportivos na internet e programas esportivas na televisão, e sim, adentrasse que nem num tranco de vanera (dança de baile gaúcho em galpão de CTG - Centro de Tradições Gaúchas), nas páginas de economia, tanto de jornais, revistas, internet, rádio e televisão.
Orçamento doméstico: em planilha excel. Mais simplão que painel de Jipe
Em abril de 2008 iniciamos o nosso orçamento doméstico. Somos uma família da classe média, que não parcela nem pensamento. Eu particularmente não parcelo nada, nem programas televisivos. Por isso, o "carnê da casa própria" que chamam de novela, está DELETADO, assim como os programas com alguns capítulos, que chamo de "compra em dez vezes pelo preço à vista".

Aqui neste modesto galpão, o linguajar dos nossos chasques (postagens próprias) são de um sotaque de galpão, carregado de linguajar de galpão da sociedade tradicionalista, o gauchês, por isso, quando tu leres um vocábulo de galpão, ele estará em bom português entre parênteses.

Já comentamos em outras oportunidades que o sítio Dinheirama - www.dinheirama.com, foi o primeiro galpão de finanças pessoais e economia que me chamou atenção.  Depois muitos outros sítios desta área e vieram os eventos EXPOMONEY, que infelizmente acabaram, pois eram eventos sobre finanças pessoais, investimentos e empreendedorismo que circulavam o ano todo por todo o país, e terminavam em Porto Alegre em dezembro.

28 de janeiro de 1989
Casamos em 1989. Eu já com meus trinta anos de vida. Fielmente tive, desde a primeira assinatura de contrato de trabalho, os meus descontos para o INSS, para fins de aposentadoria oficial. A esposa Marilene pagava o seu carnê do INSS, também para fins de aposentadoria oficial. Chegaram as crianças - a Bibiane em 1990 e a Ana Paula em 1997. E a minha preocupação era tanto para mim, pra esposa e as crianças, em algo além do INSS.

Me inscrevi em 1993 no Fundo de Pensão FAPERS, patrocinado pela empresa onde trabalho, a EMATER RS. Mas ela estava sob intervenção e não aceitava novos associados. Fiquei "na fila" por dez anos, quando a intervenção cessou e novas inscrições eram aceitas. Então, comecei a contribuir aos 40 anos de idade (isso quer dizer que só ali tem um atraso em investimentos, entre 15 e 20 anos, para fins de aposentadoria complementar). Mas a preocupação continuava: e a esposa e as crianças???

Pela ordem: Marilene, Bibiane, Ana Paula e Valdemar
Mas neste ínterim, neste período, construimos nosso rancho, nossa casa. Como acima citamos, não gostamos de parcelamentos, mas adotamos o financiamento da casa em pequenos empréstimos via cooperativa de crédito mútuo, dos servidores da EMATER RS, a CRESAL, onde estes financiamentos são as famosas exceções à regra. Em dez anos a casa estava pronta e quitada. E ainda recebíamos (e continuamos recebendo até ohe) após a assembleia geral, em março de cada ano, sobras sobre o capital na cooperativa e pelos empréstimos tomados. Nada de empréstimo tomado do antigo BNH ou no atual Sistema Financeira da Habitação ou ainda, no mercado financeiro tradicional, para pagar em trinta anos ou mais, pois isso é o real suicídio financeiro de um lar, de uma família, pois pagas-se pelo mesmo imóvel que se compra, mais um em forma de juros.

Mas em 2008, abriram se as porteiras para investimentos para fins de aposentadoria complementar, para todos (eu, a esposa e as crianças). Já estava contribuindo na FAPERS, e entramos no mercado tradicional e selvagem, dos bancos, que cobram altíssimas taxas de administração e carregamento, com um PGBL pra mim e um VGBL para cada prenda (Marilene, Bibiane e Ana Paula), onde prenda é o adjetivo carinhoso para a mulher gaúcha. E começamos a "bisbilhotar" os sítios de corretoras, primeiramente abrimos conta na Gradual e depois migramos os pequenos investimentos dali para a XP, onde estamos até hoje. Começamos com a afilhada Derives e posteriormente no Grupo L & S (antigo grupo Leandro & Stormer). E hoje, dez anos após, já temos um bom capital, tanto na FAPERS, bem como na XP.

E como se diz por aqui no Sul desta terra que chamamos de mundo, o tempo passa, o tempo voa e ultimamente tenho dito que o tempo dispara.... e em 2017 chegou a aposentadoria oficial para mim, mas faço de conta que a mesma não existe. Ela é 100% investida, e não tenho prazo para parar na lida (de parar de trabalhar).

Como comentamos anteriormente, o nosso orçamento doméstico em abril fez aniversário. São dez anos de dados lançados em planilhas excel e na planilha criada pelo contador e educador financeiro Reinaldo Domingos: a planilha Disop.

Primeira arte do sítio: 18 de dezembro de 2009
E o sítio O Bolso da Bombacha, fechou nove anos no ar, na internet, com linguajar e redação próprios (de galpão, de roda de chimarrão, ao pé do fogo de chão), e que também leva chasques (postagens) da linha de finanças pessoas e de economia da mídia do Rio Grande do Sul e de toda esta terra que chamamos de mundo. 

Neste dia - 29 de dezembro de 2017, final do dia, estamos com 139.520 acessos, conforme contador de visitas instalado no sítio. Os chasques (postagens) com mais acessos são:
1 - Quantos zeros tem um trilhão?, com 17.057 acessos
2 - Você tem costume de tomar chimarrão?, com 4.721 visitas
3 - Nove maneiras estúpidas de usar o seu próprio dinheiro, com 1.395 visitas
4 - Atitude 93! Estamos nos programando para entrar em 2018 na ponta dos cascos, com 1.192 acessos
5 - Como vive o gaúcho que acumulou US$ 2,4 bilhões, com 1.115 acessos.

Os maiores acessos em termos de países são: Brasil, Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Ucrânia, China, Portugal, França, Malásia, Polônia, entre outros.


Agradecimento especial ao irmão que a tradição gaúcha me deu. Um carioca, torcedor fanático do Botafogo, simpatizante do Internacional, que aderiu a cultura tradicionalista do Sul do Brasil a partir de um trabalho escolar que enfocava a cultura regional do Rio Grande do Sul, que é o criador da arte da capa deste sítio. O nome do chirú (nome dele) é Valmir Gomes. Seu sítio tradicionalista é O Cariucho e o Tradicionalismo - www.ocariucho.com.br

Ano novo: entrar bailando e continuar investindo!
Aproveitamos a oportunidade para desejar a todos um baita 2018 e que todos os sonhos se realizem, de fato, em especial, os que envolvem os investimentos, as finanças, os cobres, o bolso da bombacha.

E nada melhor do que entrar no ano de 2018.... bailando no autêntico compasso de um fandango gaúcho em galpão de CTG - Centro de Tradições Gaúchas.... e continuar investindo, rumo à segurança financeira e posterior independência financeira....

Até o próximo chasque (postagem) aqui no sítio O Bolso da Bombacha.

Valdemar Engroff - o gaúcho taura!    

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

As semelhanças e diferenças entre as reformas da Previdência do Brasil e da Argentina

Reforma provocou protestos que resultaram em confrontos na Argentina(AFP)
Sob intensos protestos, o Congresso da Argentina aprovou na segunda-feira uma polêmica reforma em seu sistema previdenciário, que muda a forma como se reajustam os benefícios sociais de estimados 17 milhões de argentinos.

Foi uma importante vitória política do presidente Mauricio Macri, patrocinador do projeto - aprovado por 127 votos a favor, 117 contra e duas abstenções. 

Enquanto isso, no Brasil a votação da Reforma da Previdência é alvo de intensa negociação entre o governo Michel Temer e o Congresso, que adiou a análise do tema para fevereiro.

Na Argentina, aposentadorias, pensões e benefícios eram até então reajustados semestralmente a partir de índices como evolução dos salários e arrecadação previdenciária. A reforma prevê que o aumento passe a ser regido pelos índices de inflação auferidos trimestralmente.

"O que fizemos foi garantir, nos próximos anos, uma fórmula que defenda os aposentados do pior mal que sofremos, a inflação, contra a qual lutamos, mas não conseguimos vencer", afirmou Macri.

Críticos, no entanto, argumentam que a mudança resultará em perdas para os aposentados - a aprovação foi seguida de amplas manifestações e uma greve geral.

"O projeto é perverso de A a Z, prejudica o conjunto do povo argentino. Por isso gerou reação em todos os lados, menos neste recinto (em referência ao Congresso)", afirmou o deputado opositor Agustín Rossi. 

Nas redes sociais, usuários brasileiros destacaram a forte onda de protestos registrada na Argentina, comparando-a às reações populares à reforma daqui.
Macri afirmou que reforma protegerá aposentados da inflação; críticos discordam (Reuters)
Se por um lado a reforma aprovada no país vizinho é mais restrita do que a que se planeja aplicar no Brasil, o cenário político e econômico dos dois países guarda semelhanças.

Veja, a seguir, o que há em comum ou não nos esforços governamentais de reforma, aqui e lá:

- Diferenças

 

Reformas de alcances distintos

A reforma argentina focou sobretudo na mudança como se reajusta o benefício previdenciário, que passa a ser vinculado majoritariamente à inflação trimestral, em vez de a um índice que combinava reajustes salariais e arrecadação.

Para compensar as perdas que serão sofridas no período de transição das regras, o governo prometeu um bônus único adicional de até 750 pesos (cerca de R$ 140) a cerca de 10 milhões de aposentados - algo que foi criticado como "irrisório" por sindicatos e oposição.

Analistas afirmam que Macri tenta preservar seu capital político para as demais reformas, como a tributária, que também está tramitando no Congresso.

No Brasil, a atual proposta em discussão tem alcance mais amplo: prevê idade mínima para se aposentar (65 para homens e 62 para mulheres), tempo mínimo de contribuição para se ter direito ao benefício (15 anos na iniciativa privada e 25 para servidores públicos), o fim do benefício apenas por tempo de serviço e limites à aposentadoria integral, restrita apenas a quem contribuir por 40 anos.

É uma das principais bandeiras do governo Temer, mas enfrenta forte resistência no Congresso. Na semana passada, depois de muitas idas e vindas, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), declarou que a análise do tema ficaria para fevereiro.

Macri mais fortalecido

Outra importante diferença é o momento político dos governos brasileiro e argentino.
Macri viu sua popularidade ser afetada pelo recente desaparecimento do submarino ARA San Juan, com 44 tripulantes a bordo, e pelas falhas de comunicação da Marinha argentina durante o episódio.
Temer vive momento político mais delicado que Macri (Reuters)
Mas, segundo pesquisa encomendada pelo jornal Clarín no final de novembro, cerca de 54% da população mantém a aprovação ao governo - queda de 5 pontos percentuais em relação ao início de governo, em janeiro de 2016, porém em patamar ainda elevado. 

Temer, por sua vez, vive um momento bem mais delicado - usou seu capital político para angariar apoio para enterrar duas denúncias contra si em decorrência da delação premiada da JBS. Isso, somado à baixa popularidade do presidente - segundo levantamento mais recente do instituto Datafolha, ele é rejeitado por 71% da população - e à proximidade das eleições gerais de 2018, tem tornado mais difícil angariar apoio para uma reforma polêmica. 

- Semelhanças

Déficit crescente e crise persistente

Aqui e lá, os dois governos defendem que reformas são essenciais para combater enormes rombos nas contas públicas.

Na Argentina, segundo a agência Reuters, a meta de Macri é diminuir o deficit fiscal para 3,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano que vem, contra os 4,2% deste ano, além de reduzir a inflação para um patamar entre 8% e 12% - atualmente, está em cerca de 20% ao ano.

Um informe do Instituto Argentino de Análise Fiscal estimou que, com a reforma, ao final de 2019 a aposentadoria argentina estará em média 8% menor, gerando uma economia de estimados US$ 4 bilhões no ano que vem.

No Brasil, o escopo da Reforma da Previdência é alvo de debate acalorado entre economistas, mas não há dúvidas de que a situação econômica seja delicada: o governo federal tem registrado rombos bilionários nas contas públicas desde 2014, reflexo da perda de arrecadação e do contínuo aumento das despesas obrigatórias, entre elas o regime de aposentadorias e pensões. 

O Ministério do Planejamento calcula que, mantidas as regras atuais, os gastos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) representarão 58% das despesas primárias do governo federal (excluindo juros com a dívida) do governo federal em 2022.
Nas ruas, houve protestos e panelaços em reação às reformas (Reuters)
Impopularidade de reformas

Outra similaridade é a impopularidade das reformas. Por mais que esteja disseminada a ideia de que mudanças são necessárias para conter o escalonamento dos gastos públicos, é difícil obter um consenso sobre quem deve sofrer com os cortes.

Na Argentina, a votação foi seguida de enfrentamentos entre manifestantes e policiais nas ruas, com um saldo de 200 feridos e dezenas de pessoas detidas, além de panelaços em diversos bairros de Buenos Aires e a convocação de uma greve, que afetou os transportes e o comércio.

No Brasil, pesquisa de maio do Datafolha apontou que 71% das pessoas se opõem a uma reforma previdenciária, rejeição que sobe para 83% entre funcionários públicos.

Fonte! Chasque (reportagem) publicado no sítio da BBC Brasil, em 20 de dezembro de 2017. Abra as porteiras clicando em:

domingo, 17 de dezembro de 2017

Mercado do Mate tenta se reinventar



Ervateiras se diversificam para ganhar em consumo

Tererê e chá-mate agora integram portfólio ao lado
do chimarrão EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
O setor ervateiro gaúcho movimenta cerca de R$ 1,2 bilhão por ano, segundo o último informativo do Fundo de Desenvolvimento e Inovação da Cadeia Produtiva da Erva-Mate (Fundomate), considerando todas as etapas, desde a produção até o beneficiamento da erva-mate pela indústria ervateira e a comercialização. Enfrenta, porém, desafios para crescer ou mesmo manter os números, visto que a maior parte da venda é restrita à tradição regional. "Não é todo dia que nasce um gauchinho tomando mate", resume o diretor executivo do Instituto da Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate), Roberto Ferron. 

Pior ainda quando essa mesma população passa por uma crise econômica, com o desemprego em alta. A estimativa da entidade é de que o consumo de erva-mate tenha caído cerca de 20% nos anos mais recentes, o que causou também apreensão no campo, com a desvalorização do produto. Ferron afirma que a última elevação de preços aos produtores aconteceu entre 2013 e 2014, quando receberam até R$ 18,00 pela arroba. Parte da remuneração virou investimento em manejo, adubação, poda. Mas, com a retração de mercado, muitos arrancaram os ervais, dando lugar ao cultivo de grãos e outros produtos agrícolas. "Em Venâncio Aires, mais da metade foram arrancados. Entrou fumo, mandioca. No Alto Uruguai, chegou-se a ter 40 indústrias ervateiras. Hoje, tem 20", relata. 

Atualmente, o produtor recebe entre R$ 8,00 e R$ 12,00, dependendo da região de cultivo e da qualidade da erva. "O mercado é estável, sem perspectivas de melhora para tão cedo. Chegou em um equilíbrio, mas ruim para produtores e indústrias", avalia. O cultivo envolve 14 mil propriedades rurais, distribuídas em 258 municípios. Dados estatísticos do Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate), elaborados a partir da Pesquisa Agrícola Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a área de plantio gaúcha caiu de 35,2 mil hectares, em 2014, para 33,4 mil hectares em 2016. Ou seja, redução de 5,1%. Em relação a 2000 (38,8 mil hectares), a queda no índice é de 13,7%. E a mesma tendência é observada no Paraná, estado que hoje representa 39,3% da área de cultivo. 

É por isso que, entre a cadeia produtiva, ganha força a tese de que é preciso conquistar novos consumidores e diversificar a produção. A indústria aposta, por exemplo, no aumento de consumo em outras regiões do País, investindo, principalmente, no tererê e no chá-mate. "A indústria está sempre tentando inovar. Temos que tentar novas formas de consumo além do chimarrão", afirma o presidente do Sindimate, Alvaro Pompermayer, que também observa queda na demanda por conta do menor poder aquisitivo do consumidor. "Ele não deixou de tomar chimarrão, mas achou uma forma de economizar: diminuiu o tamanho da cuia", analisa.
 
A ervateira Barão, de Barão de Cotegipe, no Alto Uruguai, começou a investir no tererê em 2015, principalmente para resolver o problema de sobra de palitos no processo de exportação. "Tem crescido muito bem nos últimos dois anos. Já representa de 8% a 10% das vendas", afirma o diretor Sergio Antonio Picolo. Os principais destinos são o Mato Grosso e o Nordeste brasileiro. 

Outra diversificação recente da empresa, que nasceu em 1951, sob a marca Picolo, foi o chá-mate tostado. É vendido há mais de cinco anos, mas não cresce "lá grande coisa", conforme o dirigente. E o próprio investimento em exportação de erva-mate - que começou na Barão, em 2002, e representa, hoje, em torno de 30% do faturamento - é uma forma de fugir dos períodos de queda ou de estagnação do mercado interno. A ervateira trabalha, regularmente, com mais de 2 mil produtores. Outras empresas gaúchas tradicionais, como Ximango e Madrugada, apresentam o tererê no catálogo. "O tererê será o boom da erva-mate", confia Ferron. 

Empresa de Encantado cresce com foco no mercado uruguaio 

Em 1920, a família Baldo, de origem italiana, iniciou a construção de uma fábrica de erva-mate em Vespasiano Corrêa, município ao norte de Lajeado. Era um começo similar ao de outras tantas indústrias gaúchas. Mas começou a tomar rumos diferentes quando, ao longo das décadas, resolveu investir menos na erva-mate verde, líder no mercado brasileiro, e mais na repousada, que ganha a preferência em países como Uruguai, Paraguai e Argentina. 

A vocação da empresa para o mercado externo ficou ainda mais clara quando, em 1998, a Baldo adquiriu o controle patrimonial da Canarias S.A., que detinha a maior fatia do mercado uruguaio e com quem mantinha parceria desde a década de 1980. "Fomos avançando no mercado", conta o diretor da Baldo, Leandro Gheno. Hoje, com quatro unidades nos três estados do Sul, sendo a principal no município de Encantado, ela exporta cerca de 32 milhões de quilos de erva-mate ao Uruguai por ano. Representa quase 60% do faturamento anual de R$ 350 milhões. 

Só que não é só a Baldo que, a essa altura, enxerga o comércio exterior como uma saída interessante para alavancar as vendas. Dados do Sindimate mostram que as exportações cresceram 155% nos 10 anos mais recentes. Em 2016, foram destinadas 35 mil toneladas de erva-mate beneficiada a outros países, gerando receita de US$ 82,4 milhões. São 39 destinos diferentes - o que, para o setor, comprova o potencial para a cadeia produtiva. O auge da série histórica foi em 2014, quando a receita foi de US$ 114,1 milhões. 

Estabelecida no país vizinho, a ervateira de Encantado, agora, pretende conquistar espaço no mercado brasileiro. "Temos em mente que o mercado interno pode representar 20% das nossas vendas." O percentual atual é de 5%.

A estratégia de diversificação também existe na Baldo. Passa por fase final de licenciamento uma fábrica de chá-mate, em São Mateus do Sul (PR). "Estamos buscando alternativas para que as pessoas consumam produtos à base de mate", justifica Gheno. O empresário, no entanto, não concorda que o consumo esteja caindo ou mesmo estagnado, mas em um crescimento pequeno. "Pode ser ampliado, mas depende de esforço para que a erva-mate seja reconhecida além do hábito, como um produto que faz bem à saúde e dá energia." 

Tradição local sustenta produção de porongos 

Maior região produtora é o Médio Alto Uruguai, com cerca de
900 hectares dedicados ao cultivo /Emater/RS/Divulgação /JC

Adilson Gonçalves, de 45 anos, investiu em 112 hectares nesta safra, nos municípios de Parobé e Palmeira das Missões. A área não é nem de soja, nem de milho, tampouco de arroz. Há 20 anos, ele tem como principal atividade o cultivo do porongo, matéria-prima para a cuia de chimarrão. "Já plantei soja, arroz e trabalhei com leite. A atividade que mais deu retorno financeiro foi essa", afirma ele, natural de Vicente Dutra, município tradicional para a cultura. Acredita ser o maior produtor brasileiro e, possivelmente, do mundo.

Gonçalves produz, em média 5 mil quilos por hectare, e cada hectare rende entre 7 mil e 8 mil porongos úteis. O custo é de aproximadamente R$ 600,00 por hectare em área própria (no seu caso, 40 hectares) e R$ 1,6 mil na arrendada. Depois, beneficia e vende ao artesanato ou diretamente ao consumidor como cuia. Vende, por ano, em torno de 450 mil porongos a artesãos, a preços que variam entre R$ 1,50 e R$ 2,00, dependendo da qualidade do produto (é dividido em cuia boa, média e casca). Antes mesmo de colher, entre os meses de abril e maio, já tem boa parte da produção encomendada.

O negócio deu certo a ponto de o produtor desembolsar parte da renda para aumentar a tecnologia. Anos atrás, inventou uma plantadeira para o porongo e, a seguir, uma máquina de carregamento. Também talvez seja o único produtor do Estado que invista, hoje, em irrigação por gotejamento, afirma ele, em uma área de dois hectares. Nela, a produtividade teria chegado a 27 mil quilos por hectare. Foram duas colheitas.

A maior região produtora de porongo, no entanto, está a mais de 400 quilômetros dali, na região do Médio Alto Uruguai. Ela é caracterizada por municípios como Vicente Dutra, Iraí, Frederico Westphalen e Caiçara. Segundo a Emater-RS, a região apresenta 960 hectares de cultivo, com uma produção estimada em 5,1 milhões de porongos, sobretudo de casco grosso, e 185 propriedades. É por lá também que está concentrada a produção do artesanato de cuias e outras peças, envolvendo cerca de 250 famílias. A produção de casco fino, por sua vez, é mais recorrente na região Central do Estado, em municípios como Santa Maria e Restinga Seca. Mas, em ambas regiões, muita gente desistiu nos últimos anos, com a menor demanda em função da crise. Gonçalves teria conseguido atravessar bem o período em função da escala.

Chimarrão dá lugar a produtos inusitados

Tererê e chá-mate são produtos bastante difundidos na indústria, de olho em novos consumidores em regiões mais quentes. Mas há quem vá bem mais longe na ideia de diversificação. A Rei Verde, que tem matriz em Erechim, vende erva-mate em cápsulas de 400 mg, com promessa no rótulo de aumentar a disposição diária e ajudar na dieta e na redução de peso. "Foi uma alternativa que encontramos para tornar a erva-mate ainda mais popular", disse o sócio-diretor da empresa, Alfeu Strapasson, em entrevista ao Jornal do Comércio no ano passado, logo após o lançamento do produto.

Em 2012, a fábrica de Santa Maria começou a produzir energético à base de erva-mate, açaí e guaraná orgânicos, invenção de um empresário porto-alegrense. A catarinense Folle divulgou em diversos eventos pelo Brasil um refrigerante de mate. E a Farimate, uma farinha enriquecida com o produto, foi uma invenção bastante curiosa do Moinho Sangalli, de Encantado, que chegou ao mercado no final de 2014. 

Estado tem cerca 13,4 mil artesãos de bombas e cuias
 
Schneider aprendeu o ofício com o pai e, hoje, vende
em todo o País e até no Japão /FREDY VIEIRA/JC
O Programa Gaúcho do Artesanato, iniciativa que incentiva a formalização de artesãos e fornece carteira de trabalho, entre outros benefícios, envolve, atualmente, 89,9 mil gaúchos. Destes, cerca de 15% trabalham com bombas e cuias de chimarrão, segundo a coordenadora, Marlene Leal Garcia. Ou seja, a estimativa é que 13,4 mil pessoas dependem desse produto tradicional para ter renda, em média de três a cinco salários-mínimos.

Marlene afirma que, no caso dos cuieiros, a maior parte está próxima às regiões produtoras de porongos, como Frederico Westphalen e Vicente Dutra. "Vem de família. Muitos trabalham desde a plantação, outros compram e fazem", relata ela, que não vê grandes impactos da crise econômica por se tratar de um "mercado cativo", baseado na tradição.

A produção de bombas de chimarrão está mais espalhada no Estado - mas, igualmente, apresenta, em certa medida, caráter familiar. Foi com o pai que Klayton Schneider e o irmão, Kleber, aprenderam a fabricar o produto. Ourives, o patriarca desistiu de vender joias. "Foi atrás de um produto que vendesse. Fez a primeira bomba de prata para ele mesmo, o que não deixa de ser uma joia", relata.

A Bombas Schneider funciona em uma residência, sem fachada ou funcionário. A divulgação acontece por meio de site, redes sociais e boca a boca, além de alguns eventos. Trabalham principalmente com bombas com bocal de ouro e prata, com preços a partir de R$ 398,00. Vendem entre 10 e 15 unidades por mês, para todo o Brasil e também para fora do País. "Gaúcho tem no mundo inteiro. Tem CTG até no Japão." 

Fonte! Este chasque (reportagem) foi publicado nas páginas do Jornal do Comércio de Porto Alegre - RS, na edição do dia 11 de dezembro de 2017.